Desenvolvimento Pessoal

Quem sou eu na fila do pão?

Como diz a conhecida frase: “quão admirável são as pessoas que não conheço muito bem”, nesta quarentena estamos obrigados a conviver com a gente mesmo. E para muitos não tem sido uma tarefa fácil. Cabeça barulhenta, mil pensamentos, preocupações. Coração: medos, angústia, solidão. Corpo, ah o corpo, louco para dar umas voltinhas. E a gente se pega por tempo demais com pensamentos pessimistas e catastróficos. Devorando noticiários e conteúdos com fórmulas e regras para viver melhor esse tempo. Cometendo desperdícios ou excessos em nome da compensação.

E aí ficamos divididos entre acreditar que sairemos todos transformados, prontos reconstruir esse mundo colapsado e a visão mais simplista de que não é tão sério assim e vamos retomar a “vida” em breve, basta ficar quietinho. Não ouso discutir o certo e o errado. Mas proponho buscar equilibrar as coisas. Então voltemos ao começo, voltemos a esse estranho que descobri habitar em mim, que consegue fazer dos meus dias uma montanha-russa. Que faz a mente submeter-se ao que se apresenta sem questionamentos. A essa pessoa que tinha planos bem definidos no início do ano. Ou, talvez, nem tão bem definidos assim, mas estava na sua zona de conforto – seja ela boa ou ruim, não importa, pelo menos era conhecida! E que agora se encontra num mundo incerto e desconhecido.

Mas nem tudo são trevas, muitos têm se surpreendido com sua criatividade, capacidade de produção e reinvenção. Não tinham ideia de sua capacidade. E, de repente, se perguntam: “aonde estava isso?”

Nunca o autoconhecimento foi tão necessário e o exercício da Resiliência tão diário. Gosto e trabalho com uma definição de Resiliência que diz: é a capacidade de pensar e organizar estrategicamente suas próprias verdades. Voltar-se para si demanda esforço e necessária aceitação, reconhecimento dos medos e surtos para conseguir dar o tamanho e espaço corretos, identificar riscos e saber mensurá-los, possibilitar julgamentos com correção emocional, transitar entre a tristeza e a raiva de forma que isso te impulsione para o equilíbrio. Revisitar habilidades e talentos. Aprender a fazer curadoria de informações e conteúdos que te mantenham atualizado, conectado e te estimulem intelectualmente.

Enfim, o autoconhecimento é essência da Resiliência que por sua vez te ajuda a perder o medo de encarar a realidade, superar o romantismo ou drama. Quebrar a rigidez e entender a riqueza da flexibilidade. Auxilia a nos abrir para desaprender e desapegar daquilo não funciona mais, como rotinas, responder e reagir automaticamente. E estar pronto para aprender de novo, dentro do que é possível com os recursos disponíveis. Sem cobrar demais de você nem dos outros. Conseguir dar atenção no aqui e agora, atribuindo significado às experiências e construções de hoje com perspectiva de futuro.

Não há controle e não sabemos o que vamos conseguir ter ou manter ao final desse período, mas é possível e está nas nossas mãos definir quem desejamos ser. A escolha e privilégio são individuais e intransferíveis. Meu desejo é que cada um de nós, a partir de si de mesmo, seja autorresponsável e esteja consciente, preparado e disponível para agir na construção de uma nova forma de ver e viver, mais humana, solidária e sustentável.

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